No âmbito esportivo,não podíamos de deixar passar a oportunidade. Logo no dia seguinte à nossa chegada, teríamos a decisão do 1º turno do Campeonato Cearense, entre as duas maiores forças do Estado, os times das maiores torcidas: Ceará e Fortaleza.
A história desse clássico começa em 1918, exatamente em dezessete de dezembro, com a vitória do Ceará por 2X0. Fato pitoresco é que esse jogo se dá a menos de um mês da fundação do Fortaleza, dezoito de outubro daquele ano.
O Clássico-Rei, como é chamado, já foi disputado, até hoje, 533 vezes, com vantagem do VOVÔ, o alvinegro cearense, o Ceará, com 184 vitórias, sobre o LEÃO, o rubro-anil Fortaleza, com 161 vitórias,
além de 183 empates.
A maior goleada do clássico aconteceu em 1927, quando o Fortaleza impôs 8X0 sobre o oponente, que chegou perto da vingança em um amistoso disputado em 1955, quando venceu por 7X0. Com respeito aos gols marcados, o Ceará, ao longo do tempo, fez 735 gols no clássico, enquanto o Fortaleza assinalou 710 tentos.
Ceará e Fortaleza, dois dos times mais tradicionais do Nordeste e do Brasil, vivem constante rivalidade, o que dá margem a espetáculos dignos de registro nas arquibancadas do Castelão. Pudemos sentir a pulsação desse clássico pessoalmente, no último confronto. As torcidas organizadas se preparam durante dias para o jogo, e seus gritos de guerra e uniformes fazem do estádio um caldeirão vibrante e colorido, com bandeiras dando um complemento ao espetáculo que se vê no campo.
A nota digna de registro é a irreverência do povo cearense materializada nos gritos da galera. O Ceará, por ser mais antigo no tocante à sua fundação, é chamado VOVÔ, e faz desse tratamento o seu grito de guerra. A torcida do Fortaleza, para responder, usa de fina ironia.Tal troca de energia é o ponto alto do clássico:
Quando a CEARAMOR grita
VOVÔ / VOVÔ
a TUF ( Torcida Uniformizada do Fortaleza ) de imediato responde
PODE IR / PODE IR
é ao mesmo tempo hilariante e emocionante participar desse espetáculo. Criatividade pura de uma torcida que não para de incentivar um só minuto seus jogadores, tirando deles aquela força que seus músculos já não podem dar.
Saímos do estádio em completa satisfação. Como amantes do futebol, presenciamos a paixão em estado bruto de um povo por seus times. Observamos que os torcedores de cada lado evitam até falar o nome do oponente. Tanto os amantes ( a palavra certa é essa ) do Ceará, o ¨ Time do Povo ¨, quanto os torcedores do Fortaleza, que dizem ser o time da elite, evitam até discutir futebol para não colocar em risco amizades, parentescos e negócios. Para ilustrar, quem torce Fortaleza ( os cearenses não usam a preposição nesse caso ), chama ¨carinhosamente ¨o adversário de ¨carniça ¨.
Quando você quiser visitar o Ceará e pensar:
VOVÔ / VOVÔ ,
se pedir minha opinião, responderei sem susto :
PODE IR / PODE IR
Esse post é uma homenagem aos grandes amigos CARECA (e Cícera ), VINICIUS ( e Vládia ) E MAURO(e Ieda, Roberta e Anathália ), que me emocionaram diariamente com a amizade e hospitalidade típica do nordestino, e me apresentaram à terra abençoada na qual passei quinze dias. Obrigado.