PELA MORALIZAÇÃO E APLICAÇÃO DAS REGRAS DE FUTEBOL

Abel soltou o verbo . O campo de Moça Bonita não apresenta condições de jogo .

Loco Abreu já havia tocado no assunto , semanas atrás . Um jogador estrangeiro tocando em um assunto que , parece , não diz respeito aos atletas brasileiros : o palco do espetáculo .

Um técnico e um jogador .

E onde estão os dirigentes , presidentes , gerentes de futebol , fisiologistas , médicos dos clubes ?

Onde está Alfredo Sampaio , presidente , há anos , do sindicato de Atletas Profissionais do Rio de Janeiro ?

A Globo veta estádios onde seus técnicos de imagem e som vislumbrem qualquer empecilho à boa recepção dos aparelhos de tv . Prima pela qualidade da imagem que vende .

O espetáculo que mostra ? Não , não precisa ser de qualidade técnica . O HD projeta uma visão tão linda que os usuários do ¨pay-per-view ¨ nem notam se a bola rola ou quica .

O importante é vender . Tal como os cds e DVDs piratas , o que importa é o lucro .

Em um futebol profissional , onde público e atletas fossem tratados com a importância que merecem , os clubes só poderiam jogar o campeonato se passassem pelo crivo de alguns segmentos envolvidos no universo do esporte . Três meses antes , os estádios seriam vistoriados por comissões distintas :

Bombeiros e Polícia Militar se incumbiriam de cobrar os aspectos relativos à segurança dos envolvidos nos jogos . E cobrariam conforto para os torcedores assistir aos jogos SENTADOS e terem sanitários disponíveis em condições de uso .

O Sindicato dos Atletas ( vamos trabalhar , Alfredo ) se incumbiria do ¨salão de baile ¨ , o campo . Se a bola não rolasse , VETO . Clube rebaixado ou impedido de disputar naquele ano .

Comissão técnica ( pode ser o Sindicato dos Técnicos de Futebol ) se encarregaria dos vestiários e acessos ao campo . Certo , Abel ?

Representantes de torcidas vistoriariam cercanias para opinar , junto à PM , sobre venda de ingressos , principalmente os antecipados . A repressão aos cambistas ficaria a cargo de representantes dos clubes .

Ao Sindicato de Jornalistas competiria a aprovação das instalações para a imprensa .

E a Globo se manifestaria sobre condições de iluminação e instalação de equipamentos para as transmissões . Campo sem condições de transmissão , clube sem condições de disputar o campeonato .

Os clubes que não se adequassem às regras não disputariam o campeonato daquele ano . Sem apelação .

Regras básicas , propostas por um simples torcedor , para melhorar a qualidade do espetáculo e o conforto do público , dentro e fora dos estádios. Público que voltaria às praças de esporte , se se sentisse prestigiado .

Basta vontade política e não ter ¨rabo preso ¨ com os ¨homi ¨ da FERJ .

Porque , como diz RJ ,  no Lanceactivo , ¨ NÃO ADIANTA RECLAMAR DO PLIM-PLIM NO VESTIÁRIO ¨.

 

DESERTO DE IDEIAS

Em 2006 , recém-chegado do futebol do interior de Minas , Ney Franco , um jovem técnico que assumira o Flamengo nas semifinais da Copa Do Brasil , surpreendeu a mídia esportiva com uma inovação tática . Seu 3-6-1 , na final do torneio , transformou-se em um banho tático sobre Renato Gaúcho , técnico do Vasco , e levou o Flamengo ao título nacional .

Dois anos depois , em 2007 , Cuca , então técnico do Botafogo , fez de seu time a grande novidade do futebol brasileiro . Usando um 3-4-3 onde os laterais transformavam-se em meias e até os zagueiros atacavam , aproveitou a obediência tática dos atletas , nenhum deles craque consagrado , para fazer do rodízio constante e da filosofia de que quem deve correr é a bola , para proporcionar a nós , torcedores , partidas gostosas de se ver . O Botafogo dava espetáculo , e cada jogo era um acontecimento esperado durante toda a semana .

Você , leitor , lembra de algum outro momento dos últimos tempos em que o técnico foi o grande protagonista do espetáculo ? Onde ele era o alvo das entrevistas por ser realmente o responsável por novidades táticas e fuga do marasmo ?

Então... Fala-se muito da queda de qualidade dos nossos jogadores , da escassez de pé-de-obra qualificada nos campos de futebol tupiniquim , da entressafra cada vez mais pobre em revelar craques .

Mas , e os ¨professores ¨ ? A quantas anda o nível de responsabilidade deles nesse panorama ? No deserto de ideias do futebol brasileiro , quanto de culpa cabe aos técnicos ?

A essência do futebol mudou . Hoje , evitar gols é o objetivo principal de cada comandante . Ao chegar em um clube , a primeira preocupação é ¨ arrumar a cozinha ¨, como eles dizem.

Depois , a parte tática do time visa , prioritariamente , a neutralizar o que o adversário tem de melhor . Quando se fala em surpreender o oponente , é exatamente isso : anular seus pontos fortes . Porque não surpreender com ofensividade não esperada ?

Luxemburgo , o outrora top-de-linha da vanguarda futebolística brasileira , tem uma frase linda : ¨Quem tem medo de perder , não tem coragem de ganhar ¨ , fazendo alusão ao jogo ofensivo .

Mas seu times , como o Flamengo das últimas temporadas , jogava com TRÊS volantes , privilegiando o contra-golpe , e não mostrou nada de convincente em dois anos . Pura retórica .

Nossos técnicos não estão , há muito tempo , deixando legados para o futebol . O Barcelona de Pep Guardiola inova ao colocar fundamentos de basquete dentro das quatro linhas . Mas sua tática de triangulações já era usada tempos atrás por um certo Claudio Coutinho , que , tal como o técnico espanhol , guardava um segredo que os atuais técnicos insistem em não querer decifrar : a melhor tática é a qualidade individual .

Sim , transformar esquemas através do toque mágico , sem engessamento , da categoria dos jogadores . O esquema tem que se adequar às individualidades , e não o contrário .

Jogam os melhores , desde que saibam executar funções no espaço que lhes cabem . Coutinho chegou a usar dois laterais-direitos ao mesmo tempo , no Flamengo e na seleção. Daniel Alves é ponta no time espanhol , que joga só com um volante de contenção . Ralf e Paulinho são as molas propulsoras de um esquema pragmático que dá certo , embora sem beleza . Não é invenção , é aproveitar os melhores .

Jogadores , base mal utilizada , escassez de craques , tudo isso é cortina de fumaça para encobrir o grande mal do nosso futebol , e da seleção , por consequência : a falta de ideias dos nossos treinadores .

E eles ganham quinhentos paus por mês , em média .

UM EMPATE FRUSTRANTE . UM FUTURO PROMISSOR .

 

Nada como um dia após o outro , com uma noite ( mal dormida , diga-se ) no meio .

 

Um empate frustrante , dentro de seus domínios , após uma vantagem de três gols , obtida com muito suor e entrega , deixa qualquer torcedor à beira de um ataque de nervos .

   

Mas , o travesseiro é amigo , e nos traz visões diferentes de um mesmo evento .

  

O jogo de ontem , apesar da decepção do resultado final , traz lições amargas , mas também perspectivas altamente positivas para o futuro do Mais Querido .

Sem outras opções no elenco , devido às contusões , Joel teve que mudar seus planos e lançar os meninos da base . E acabou acertando .

Desde o histórico  jogo com o Santos o time não havia feito uma exibição tão convincente , tão intensa , de entusiasmar o torcedor . O novo meio-campo , recheado de garotos e com um Botinelli mais consistente , ¨engoliu ¨ o experiente time do Olimpia paraguaio , e vencia com sobras até o apagão que jogou fora dois pontos preciosos .

  

Joel fez uso de um time leve , postado em um surpreendente 4-1-2-3 , apenas um volante , Muralha , e dois meias velozes e criativos abastecendo o ataque  com três jogadores .  

Um Joel Santana ofensivo , pasmem , com um esquema que privilegia e valoriza as individualidades de cada atleta , com um time bem distribuído em campo , imbuído do espírito guerreiro tão necessário à disputa desse torneio , ocupando cada centímetro do gramado com disposição que não se via há tempos .

Um  esquema em que até R10 colabora na marcação , talvez orientado , talvez contagiado pela correria da juventude rubro-negra , que corre e o deixa com mais condição de luzir .

E uma defesa que , bem postada durante 75 minutos , não sobrecarrega tanto o meio-campo , que pode , assim , despender mais tempo para a criação .

O Flamengo parece ter achado , quase sem querer , o time que pode resgatar grandes campanhas . Falta rodagem , mas a sequência dos jogos é que vai incorporar a experiência necessária . Cabe à torcida papel importante , o de ter paciência , sabendo esperar .

O futebol tosco  , representado por Willians , Airton e Renato Abreu , de desarme à custa de faltas e cartões , sem criatividade para a armação de jogadas ,  parece que ficou ali atrás .

O futuro é de Muralha , Luis Antônio e Botinelli , de bola saindo limpa da defesa para o ataque e marcação visando ao desarme somente na bola .



Perdemos dois pontos  , perfeitamente recuperáveis .

E ganhamos um time .

Que Joel possa mantê-lo .