Nos últimos dias novas acusações de doping tomaram as páginas dos jornais esportivos . O caso dos nadadores brasileiros , com Cesar Cielo entre eles , tomou grande repercussão pela presença do nosso recordista mundial .
Essa semana o jogador de vôlei de praia , Pedro Solberg , acusou substância ilícita em seu organismo e foi suspenso preventivamente até a solução do caso .
Nos últimos anos, tivemos inúmeros casos de atletas sendo punidos por apresentarem em seu organismo substâncias que constam da lista negra dos órgãos de controle de doping entre atletas de alto nível .
Desde Mauren Maggi , suspensa às vésperas do Pan-Americano de Santo Domingo , em 2003 , observamos que os níveis de controle sobre esses atletas têm tomado proporções gigantescas . Testes e amostras são feitos e recolhidas até na própria residência dos competidores , em datas não reveladas , configurando o efeito-surpresa , para garantir a lisura dos exames .
Seriam atitudes dignas de aplausos , por primar pela busca incessante da manutenção da pureza nos esportes , garantindo aos competidores igualdade física e técnica nas disputas , privilegiando a conquista das vitórias àqueles mais bem preparados .
Mas os critérios é que sempre me incomodaram . O que temos visto é que atletas pegos nesses exames apresentam as justifictivas mais simplórias e deixam a nós , leigos , embasbacados com os casos .
Maurren , Daiane e Jaqueline , do vôlei , foram penalizadas por ingerirem substâncias encontradas em cremes para depilação e chá diurético , respectivamente , facilmente adquiridos em qualquer farmácia , não sendo , portanto complementos ou suplementos vitamínicos associado a alta performance .
Recentemente , tivemos casos de jogadores de futebol cujos exames acusaram cocaína e maconha em seus organismos . Jobson e Renato Silva foram suspensos e o primeiro ainda aguarda o veredito para seu caso . A cocaína , por seu efeito estimulante , ainda pode ser considerado um doping , pois aumenta a performance , mas a maconha é associada somente ao prazer , não atua como estimulante , ao contrário .
O que causa desconforto é que os atletas cujas substâncias aparecem em seus exames , são sumariamente suspensos e , na grande maioria dos casos , punidos com longos afastamentos .
Essas penas não consideram nunca a quantidade ingerida , e é aí que as dúvidas suscitam a sensação de injustiça . Como saber se a ingestão foi suficiente para um ganho atlético , para a diminuição de milésimos de segundos , milímetros ou um pique mais agudo em direção à bola ?
Como avaliar a real veracidade dos depoimentos , se não há contra-prova que indique a dosagem mínima para esses ganhos ?
Em termos jurídicos , existe uma expressão em latim , in dubio pro reu , que significa ¨na dúvida , a favor do réu ¨, que é a chamada presunção de inocência .
Não é essa a sensação que temos sempre que um atleta , comprovadamente de reputação ilibada , é pego em um desses exames ?
Não fica a impressão de que seria uma idiotice sem tamanho colocar em risco todo o esforço de uma vida , a troca do lazer pelo compromisso de representar seu país , a perda da credibilidade frente a seus fãs e à opinião pública , por um ganho trapaçeado que não garante a certeza da vitória ?
Já não seria o momento desses órgãos , que merecem todo o nosso incentivo , buscarem meios para definir o limite entre a medicação e a má intenção ? Eliminar todas as dúvidas que ainda permeiam tais fatos , no que concerne às justificativas dos envolvidos ?
É esperar que , num futuro bem próximo , possamos separar o joio do trigo .